9 de mai. de 2010

Com Teresa Cristina: bem melhor assim


Lembro que ouvi falar muito de Teresa Cristina antes de ouvi-la cantar. Até que minha curiosidade musical me levou a procurar alguma coisa dela, e lembro que a primeira coisa que escutei foi seu disco "A Vida Me Fez Assim", na rádio Uol. Imediatamente percebi que ali havia um trabalho muito consistente, mesmo que só depois tenha sabido que grande parte daquelas canções era composta pela própria Teresa. Gostei de sua voz, suave e sem virtuosismos exagerados, do jeito que eu acredito que é o jeito certo de se cantar samba, como o povo canta nas rodas, nas reuniões nos fundos de quintais. Me tornei um entusiasta do trabalho dessa moça imediataente.

Mas, por incrível que me pudesse parecer, haviam (e ainda há) várias vozes discordantes, que diziam se tratar de um embuste. De todas as críticas que ouvi sobre ela, a mais corriqueira seria a de que Teresa seria "sem graça" no palco. As críticas à sua voz e jeito de cantar eu nem levei em consideração, uma vez que o que ouvia me dava (e dá) a certeza de que, assim como Nara Leão, não é o volume de voz que faz de Teresa uma grande cantora. Até que, já anos depois (e já fã) pude assistir o show "Delicada" aqui em Salvador no palco do Teatro Castro Alves. Não achei Teresa "sem graça". Pelo contrário. Tímida, de fato, mas segura e muito simpática, e com um poder de comunicação com o público, uma coisa muito bonita. Assisti a esse show encantado, e a impressão que tive ao final do show, das pessoas que estavam comigo e no lotado teatro, foi que tínhamos visto uma linda amostra de música brasileira. E saí certo de que tinha visto o show de uma artista importante.

Depois disso tive o enorme prazer de ver Teresa ao lado de Jussara Silveira e Rita Ribeiro no DVD "Três Meninas do Brasil", e agora acabo de adquirir seu novo DVD, "Melhor Assim".

Pois Teresa está realmente "Melhor Assim". Cada dia mais segura de sua atuação, os dias de timidez, o canto parada de olhos fechados no centro do palco estão ficando cada vez mais para trás. Teresa está, aos poucos, assumindo sua postura de estrela, coisa que talvez ela não conseguisse encarnar antes.

Outro dia assisti no Youtube uma entrevista dela, em fala que não é uma pessoa tímida, mas que no palco ela fica tímida e trava, que essa coisa de ser cantora não foi uma coisa que cresceu com ela, que era uma coisa nova. Pois bem, isso está deixando de acontecer. Cantora, ótima compositora, Teresa está cada vez mais intérprete.

Nos extras do DVD, Seu Jorge, um de seus convidados (ao lado de Marisa Monte, Caetano Veloso, Lenine e Arlindo Cruz - e sua mãe, D. Hilda, cantando lindamente um antigo sucesso de Angela Maria) fala que acha de grande importância para o Rio de Janeiro que haja uma Teresa Cristina e seu canto seu firulas, suas composições. Eu também acho. E vou além: acho Teresa importante para o Brasil, ela está devolvendo ao samba a nobreza e importância que lhe foi roubada na década de 90, com aquela avalanche de grupos de "bregode" qua ainda infestam os programas dominicais. Para mim, ela é hoje, pela novidade que ela traz, pelos resgates que faz, a figura mais importante do samba. Um presente para a MPB, que está bem melhor assim, com ela.

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