10 de dez. de 2011
9 de dez. de 2011
O Recanto de Gal Costa.
Gal Costa está de volta, depois de uma lacuna de 6 anos sem gravar (5, se formos contar os CDs "Gal Costa Live at Blue Note" e "Gal Costa Ao Vivo", de 2006). O último disco de estúdio de Gal foi "Hoje", lançado em 2005, no qual a cantora apresentava ao grande público compositores pouco conhecidos, uma coleção de boas canções, mas que, por motivos mais que sabidos - ou mesmo impossíveis de definir - não fizeram sucesso e ainda que o disco tenha recebido boas críticas na época de seu lançamento, permanece pouco conhecido do grande público. O fato é que somente os fãs mais dedicados - e Gal Costa os tem aos montes - conheceram o CD.
Acaba de ser lançado pela gravadora Universal o CD "Recanto". No disco, Gal interpreta 11 canções de Caetano Veloso, que também produziu o CD. Bom... dizer que Caetano produziu o CD e compôs as músicas é uma meia evrdade. O fato é que "Recanto" nasceu de uma idéia de Caetano, que propôs à cantora gravar um CD produzido por ele, somente com canções dele e com sonoridade imaginada por ele, centrada em programações eletrônicas. Dada a proximidade entre os dois artistas, é mais que claro que Gal topou o projeto.
Depois de anos com uma incômoda sensação de que minha adorada cantora preferida iria se tornar uma espécie de súper-Emílio Santiago, relendo com competência mas sem grandes inventividades clássicos ultra conhecidos, Gal gravou um dos CDs mais instigantes e profundos de sua carreira.
Nunca, em nenhum de seus discos anteriores, nem mesmo os mais badalados pela crítica ou os maiores sucessos de público, Gal Costa esteve tão desnudada. Não acho que o fato de ter a maior parte dos arranjos pautados em programações eletrônicas faça de "Recanto" um CD 'moderno.' Ora, a eletrônica não é nenhuma novidade no cenário da MPB, a anos tem figurado em discos de vários artistas do Brasil, como Adriana Calcanhotto, Fernanda Porto, Vanessa da Mata (que estourou nacionalmente com um remix de sua canção "Ai ai ai ai"), só para ficar nas cantoras, foco desse blog. Até a própria Gal Costa já flertou com a eletrônica em seu CD "Aquele Frevo Axé", de 1998, produzido por Celso Fonseca, além de já ter tido algumas de suas músicas remixadas, como já aconteceu com suas gravações de "Socorro", "Chora tua tristeza" e "Sebastiana". Ou seja, a voz de Gal e a aletrônica não são totalmente estranhas uma à outra. O que faz com que "Recanto" seja um CD altamente instigante são as canções compostas por Caetano (9 inéditas, duas já pré-existentes) para Gal cantar. Caetano tem contado nas entrevistas de lançamento do CD que teve a confirmação de suas intençôes de produzir esse disco com Gal ao vê-la em um show de voz e violão em Portugal, de onde tirou a imagem dos versos "roço a minha voz no meu cabelo", da letra de "Autotune autoerótico", uma das canções novas. Caetano criou canções de letras longas e melodias repetitivas, que adornadas com os arranjos eletrônicos soam como o oposto total do que se espera de uma cantora como Gal Costa, conhecida por seu apego à melodias mais rebuscadas e... melodiosas. Mas aí é que está o pulo do gato: se Caetano foi radical na composição das melodias, às vezes dura e lineares, efeito acentuado pelos arranjos, que poderiam ser estranhas à voz de Gal, ele criou letras que são, a todo momento, referências, explícitas ou não, à obra, vida e personalidade de Gal. Algumas pessoas têm insinuado pelos "recantos escuros" da internet uma possível passividade da cantora na produção desse disco, mas, incrivelmente, num disco totalmente idealizado por Caetano Veloso, Gal Costa NUNCA FOI TÃO ELA MESMA, e através das letras de Caetano Gal tem a ousadia até mesmo de tocar em assuntos delicados, como a postura de diva ostentada em certa fase da carreira ("era só fazer pose e cantar / presa ao dinheiro"), as cobranças sempre feitas a ela de realizar discos e shows "modernos", "revolucionários" ou "inventivos" ("Convidam-me a mudar o mundo / É fácil: nem tem que pensar / Nem ver o fundo"), dureza de viver ("Viver é um desastre que sucede a alguns"), a maternidade recente ("o menino salva as madrugadas") e mais um outro tanto de frases/flashes que falam muito sobre Gal, de uma forma como nunca antes, nem em "Vapor barato", "Baby", "Festa do interior" ou mesmo "Meu nome é Gal" aconteceu.
"Recanto" é um súper disco por aliar ótimas canções, arranjos que tentam a todo momento fugir dos sons convencionais e confortáveis, e uma cantora que canta com grande verdade. "Recanto" é, na minha opinião, depois do ousadíssimo "Gal", de 1969, o disco mais inusitado de Gal Costa. Muita gente vai estranhar, mas o disco já é um sucesso de crítica, apesar de uma (e não sei se outra) opinião negativa. Porém, como diz o verso final de "Recanto escuro": "Coisas sagradas permanecem / Nem o Demo as pode abalar / Espírito é o que enfim resulta / De corpo, alma, feitos: cantar"
O REPERTÓRIO
1- Recanto Escuro
2- Cara do mundo
3- Autotune autierótico
4- Tudo dói
5- Neguinho
6- O menino
7- Madre Deus
8- Mansidão
9- Sexo e dinheiro
10- Miami maculelê
11- Segunda
20 de mai. de 2011
As Jóias de Zé Pedro
Em Salvador, cidade onde vivo, deixei de ir para danceterias por não ter mais a menor paciência para a pedância dos DJs locais que querem a todo custo serem londrinos ou coisa que o valha e enchem o saco com bate-estaca repetitivo e sem letras, uma coisa insuportável, absolutamente distante do que me é agradável aos ouvidos. Porém, a muito tempo gosto do DJ Zé Pedro. O que é uma coisa estranhíssima, levando em consideração que detesto música eletrônica. A grande diferença entre o DJ Zé Pedro e seus colegas pretensamente "internacionais" é que Zé assume a música brasileira! A muito tempo que descobri que é, sim, perfeitamente possível transformar a MPB em algo dançante. E essa descoberta foi á partir dos CDs de remixes de Zé Pedro, onde até Maria Bethânia e Nara Leão viraram música de pista de dança.
Agora o DJ Zé Pedro está abrindo uma gravadora, a Jóia Moderna. Seria mais uma gravadora como todas as outras, não fossemumd etalhe: a Jóia Moderna é especializada em CANTORAS! Sim, meus amigos, atendendo nossas preces (as minhas pelo menos) surge uma gravadora dedicada a lançar trabalhos de nossas queridas cantoras, especialmente aquelas que, porum motivo ou outro, foram alijadas do mercado fonográfico.
Na primeira fornada saíram, de cara, quatrro CDs absolutamente fantásticos: "Negra Melodia", de Zezé Motta, "A Dama Indigna", de Cida Moreira, "Ave Rara", de Sílvia Maria, e A Voz da Mulher na Obra de Taiguara. Um melhor do que o outro.
"Negra Melodia" traz de volta Zezé Motta ao disco, após 11 anos. Zezé, uma grande cantora que se deu melhor como atriz, aparece nesse CD cantando uma dupla de compositores chamados de "malditos", Luiz Melodia e Jards Macalé. O CD é ótimo, e os apreciadores de cantoras devem ter percebido jóias raras do repertório de Gal Costa ("Mal secreto") e Maria Bethânia ("Anjo exterminado") no revigorado e pouco usal repertório do CD. Nenhum dos grandes sucessos de Melodia e Macalé está no CD, mas o repertório é muito bom, e Zezé dispensa comentários.
Cida Moreira registra em "A Dama Indigna" o repertório de show de voz e piano que vem apresentando, e evoca nesse trabalho o espírito de seus primeiros discos, lançados no início dos anos 80, notadamente o primeiro, "Summertime", no qual, assim como nesse "Dama Indigna", Cida canta com seus estilo dramático, espirituoso, com um gostinho sutil de operístico, tanto clássicos da MPB quanto músicas internacionais.
Sílvia Maria é uma veterana absolutamente desconhecida do grande público. Eu mesmo não tinha ouvido falar dela até saber do surgimento da "Jóia Moderna", e fiquei encantado com o CD. Sílvia lançou apenas dois discos antes desse, o primeiro deles no início da década de 70. Uma grande cantora que precisa ser descoberta.
E finalmente "A Voz da Mulher na Obra de Taiguara" é um projeto que traz várias cantoras cantando composições de ou gravadas por Taiguara. Um disco excelente, onde as veteranas Claudette Soares, Cláudia, Fafá de Belém, Célia, Evinha, Cida Moreira, Vânia Bastos, Adyel Silva e Sílvia Maria, ao lado das cantoras mais recentes Luciana Mello, Aretha Marcos, Verônica Ferriani, Fernanda Porto e Teresa Cristina (esta, nuam especialíssima faixa bônus, "Modinha", unica música não composta por Taiguara, mas um dos maiores sucessos dele como cantor).
Como se não bastasse essas quatro belíssimas jóias, a gravadora está preparando novos CDs de Cláudia (cantando lados B da obra de Caetano Veloso) e Amelinha.
Que venham mais e mais CDs dessas grandes mulheres, e que mais e mais grandes estrelas deixadas em segundo plano pela indústria de discos tenham a chance de mostrar seu brilho de novo.
PS: o DJ Zé Pedro diz sempre "Graças a Deus o Brasil não tem só 5 cantoras". Concordo Zé!!!
7 de abr. de 2011
6 de abr. de 2011
O Quintal de Ná
Ná Ozzetti é uma das melhores cantoras brasileiras. Não se pode dizer que essa seja uma verdade conhecida de todo mundo, uma vez que a cantora paulista jamais foi um sucesso de massas, mesmo com uma relativa visibilidade no Festival da Música Brasileira em 2000, tentativa frustrada da Rede Globo de reviver os áureos tempos dos Festivais da Canção da década de 60. Se o Festival da Rede Globo não revelou nenhum novo expoente da MPB, como os Festivais da Record nos anos 60, pelo menos um saldo positivo adveio desse evento: como premiação por ter ganho a categoria de Melhor Intérprete do Festival, Ná Ozzetti ganhou o direito de lançar um CD pela Som Livre, que saiu em 2001 e se chamou "Show", nome da canção de Luiz Tatit e Fábio Tagliaferri que Ná defendeu no tal festival. Se essa música era uma inédita do de um dos compositores que acompanharam a carreira de Ná (Luiz Tatit era - e ainda é - o grande mentor do Grupo Rumo, expoente da vanguarda Paulistana que no início da década de 80 tinha Ná como principal vocalista), o restante do CD "Show" foi todo formado pela releitura de grandes clássicos da Era de Ouro da MPB, não por acaso na maioria gravados originalmente por grandes cantoras, como Araci Cortes ("Linda flor"), Carmen Miranda ("Na batucada da vida" e "Adeus batucada"), Aracy de Almeida ("Último desejo"), Dalva de Oliveira ("Segredo"), Isaura Garcia ("Mensagem"), Elizeth Cardoso ("Canção de amor" e "As praias desertas"), Dolores Duran ("Não me culpes") e Maysa ("Meu mundo caiu"). A partir desse disco, Ná Ozzetti iniciou um longo período de discos de "intérprete", interrompendo o processo iniciado em 1994 com o disco "Ná" e que seguiu com "Estompim", em 1999, no qual passou a aparecer também como compositora de parte do repertório desses discos, tendo como parceiros nomes como Itamar Assumpção, José Miguel Wisnik e Luis Tatit, entre outros. Em 2005 e 2006 Ná gravou com o pianista André Mehmari dois CDs e um DVD do projeto "Piano e Voz", e em 2009 lançou o elogiadíssimo CD "Balangandãs", no qual faz uma homenagem a Carmen Miranda, cantora de grande influência no trabalho de Ná.
Pois bem, após um hiato de 11 anos, Ná volta a aparecer como compositora no seu novo CD, intitulado "Meu Quintal", pela gravadora Borandá, através do selo Ná Records. Se nos seus trabalhos anteriores a compositora ficou em segundo plano, nesse novo trabalho 11 das 12 faixas do CD são parcerias de Ná Ozzetti com Luis Tatit, Zélia Duncan, Alice Ruiz, Asthur Nestrovski, Makely Ka, Carol Ribeiro e Neco Prates (não por acaso, marido da cantora). Somente uma das músicas, "A Velha Fiando", não é composição de Ná, e foi escrita por Dante Ozzetti (irmão da cantora) e Luiz Tatit. Ná Ozzetti não é letrista. Sua parte nas composições é a criação da melodia. E aí está a virtude e defeito do CD. O CD, a rigor, é muito bom. Porém Ná Ozzetti criou melodias difíceis de serem assimiladas, que faz com que o CD não tenha aquelas características intrínsecas a músicas de fácil apelo popular, sejam elas boas ou ruins: elas não são músicas "cantaroláveis" em uma primeira audição. O CD, como um todo, é daqueles que o ouvinte precisa escutar várias vezes seguidas para apreender as melodias, e daí começar a gostar. Porém passado o estranhamento inicial começa a adquirir peso a cada audição, à medida que as melodias vão ficando familiares. Não é um CD para o ouvinte comum acostumado a programação radiofônica. É difícil, as melodias são abertas, cheias de vagos... mas seria um contrasenso que uma artista que já está na cena musical do país a 30 anos sem nunca ter sido uma mega-star (e esse CD é comemoração desses 30 anos) tenha a preocupação de ser "popular", quando a essa altura do campeonato não faria mais sentido algum fazer concessões. Por outro lado, talvez músicas de compositores de fora do "grupo da Ná" pudessem trazer um colorido extra ao CD quando justapostas às melodias criadas pela cantora. Das 12 músicas, uma, "Entre o amor e o mar" (Ná e Luiz Tatit) já tinha sido lançada em 2006 pela cantora Jussara Silveira, e é a única não inédita.
Repertório do CD:
1. Meu Quintal (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
2. A Velha Fiando (Dante Ozzetti / Luiz Tatit)
3. Baú de Guardados (Ná Ozzetti / Alice Ruiz)
4. Tupi (Ná Ozzetti / Arthur Nestrovski)
5. Ser Estar (Ná Ozzetti / Alice Ruiz)
6. Equilíbrio (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
7. Onde a Vista Alcança (Ná Ozzetti / Makely Ka)
8. Chuva (Ná Ozzetti / Carol Ribeiro)
9. Acordo de Amor (Ná Ozzetti / Alice Ruiz / Neco Prates)
10. Sobrenatural (Né Ozzetti / Zélia Duncan)
11. Lingua Afiada (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
12. Entre o Amor e o Mar (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
O CD tem uma certa preocupação ecológica, como se pode notar em versos como "Meu quintal / tem um rio / que ainda dá / pra navegar" ("Meu quintal"), "Fábricas vêm para os trópicos / fim das florestas / e o solo deserto / aquece o planeta / derrete as geleiras / aumenta o oceano" ("A velha fiando"), "Amanheceu / Bicho cantou / Mudou o gosto do ar" ("Tupi"), "Chuva que regou o meu jardim / Floriu" ("Chuva"). Mas também discorre sobre temas existenciais em "Baú de guardados" ("Trago fechado no peito um baú de guardados / Jóias, gemas e pérolas, que podem ofuscar meus olhos"), "Ser estar" ("Eu fui, eu sou, estou / Quem foi que disse / Que pode dizer / Quem eu sou?"), "Onde a vista alcança" ("Quando a vida descansa / Foi alguém que partiu / Fica só a fragrância / Vaga, sutil / Mas o tempo avança e fica esse fio"). E, como é de se esperar, não deixa de falar de amor, como em "Acordo de amor" ("Faço como meu amor / Uma cordo / Nunca fazer sombra / Um para o outro"), "Sobrenatural " ("Sobrenatural ver você se afastar / Quase transbordei de vazio e sal").
Em "Meu Quintal", Ná conta com os mesmos músicos que a acompanharam no bem sucedido CD anterior, "Balangandãs": Dante Ozzetti (violões), Mário Manga (guitarras, violoncelo e violão tenor), Sérgio Reze (bateria e gongos) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo). Como no CD anterior, os músicos fazem um trabalho de excelente qualidade. A produção é de Mário Manga (que, por acaso, é o orgulhoso papai da cantora Mariana Aydar). Nota à parte é o belíssimo trabalho gráfico do CD. O digipack é lindo, e o trabalho foi elaborado pelo pessoal do site http://www.taocriativo.com.br/ . Muito bom! Ah, o trabalho da cantora? Releia a primeira frase desse texto!! Como sempre, Ná está cantando muito bem.
Pois bem, após um hiato de 11 anos, Ná volta a aparecer como compositora no seu novo CD, intitulado "Meu Quintal", pela gravadora Borandá, através do selo Ná Records. Se nos seus trabalhos anteriores a compositora ficou em segundo plano, nesse novo trabalho 11 das 12 faixas do CD são parcerias de Ná Ozzetti com Luis Tatit, Zélia Duncan, Alice Ruiz, Asthur Nestrovski, Makely Ka, Carol Ribeiro e Neco Prates (não por acaso, marido da cantora). Somente uma das músicas, "A Velha Fiando", não é composição de Ná, e foi escrita por Dante Ozzetti (irmão da cantora) e Luiz Tatit. Ná Ozzetti não é letrista. Sua parte nas composições é a criação da melodia. E aí está a virtude e defeito do CD. O CD, a rigor, é muito bom. Porém Ná Ozzetti criou melodias difíceis de serem assimiladas, que faz com que o CD não tenha aquelas características intrínsecas a músicas de fácil apelo popular, sejam elas boas ou ruins: elas não são músicas "cantaroláveis" em uma primeira audição. O CD, como um todo, é daqueles que o ouvinte precisa escutar várias vezes seguidas para apreender as melodias, e daí começar a gostar. Porém passado o estranhamento inicial começa a adquirir peso a cada audição, à medida que as melodias vão ficando familiares. Não é um CD para o ouvinte comum acostumado a programação radiofônica. É difícil, as melodias são abertas, cheias de vagos... mas seria um contrasenso que uma artista que já está na cena musical do país a 30 anos sem nunca ter sido uma mega-star (e esse CD é comemoração desses 30 anos) tenha a preocupação de ser "popular", quando a essa altura do campeonato não faria mais sentido algum fazer concessões. Por outro lado, talvez músicas de compositores de fora do "grupo da Ná" pudessem trazer um colorido extra ao CD quando justapostas às melodias criadas pela cantora. Das 12 músicas, uma, "Entre o amor e o mar" (Ná e Luiz Tatit) já tinha sido lançada em 2006 pela cantora Jussara Silveira, e é a única não inédita.
Repertório do CD:
1. Meu Quintal (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
2. A Velha Fiando (Dante Ozzetti / Luiz Tatit)
3. Baú de Guardados (Ná Ozzetti / Alice Ruiz)
4. Tupi (Ná Ozzetti / Arthur Nestrovski)
5. Ser Estar (Ná Ozzetti / Alice Ruiz)
6. Equilíbrio (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
7. Onde a Vista Alcança (Ná Ozzetti / Makely Ka)
8. Chuva (Ná Ozzetti / Carol Ribeiro)
9. Acordo de Amor (Ná Ozzetti / Alice Ruiz / Neco Prates)
10. Sobrenatural (Né Ozzetti / Zélia Duncan)
11. Lingua Afiada (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
12. Entre o Amor e o Mar (Ná Ozzetti / Luiz Tatit)
O CD tem uma certa preocupação ecológica, como se pode notar em versos como "Meu quintal / tem um rio / que ainda dá / pra navegar" ("Meu quintal"), "Fábricas vêm para os trópicos / fim das florestas / e o solo deserto / aquece o planeta / derrete as geleiras / aumenta o oceano" ("A velha fiando"), "Amanheceu / Bicho cantou / Mudou o gosto do ar" ("Tupi"), "Chuva que regou o meu jardim / Floriu" ("Chuva"). Mas também discorre sobre temas existenciais em "Baú de guardados" ("Trago fechado no peito um baú de guardados / Jóias, gemas e pérolas, que podem ofuscar meus olhos"), "Ser estar" ("Eu fui, eu sou, estou / Quem foi que disse / Que pode dizer / Quem eu sou?"), "Onde a vista alcança" ("Quando a vida descansa / Foi alguém que partiu / Fica só a fragrância / Vaga, sutil / Mas o tempo avança e fica esse fio"). E, como é de se esperar, não deixa de falar de amor, como em "Acordo de amor" ("Faço como meu amor / Uma cordo / Nunca fazer sombra / Um para o outro"), "Sobrenatural " ("Sobrenatural ver você se afastar / Quase transbordei de vazio e sal").
Em "Meu Quintal", Ná conta com os mesmos músicos que a acompanharam no bem sucedido CD anterior, "Balangandãs": Dante Ozzetti (violões), Mário Manga (guitarras, violoncelo e violão tenor), Sérgio Reze (bateria e gongos) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo). Como no CD anterior, os músicos fazem um trabalho de excelente qualidade. A produção é de Mário Manga (que, por acaso, é o orgulhoso papai da cantora Mariana Aydar). Nota à parte é o belíssimo trabalho gráfico do CD. O digipack é lindo, e o trabalho foi elaborado pelo pessoal do site http://www.taocriativo.com.br/ . Muito bom! Ah, o trabalho da cantora? Releia a primeira frase desse texto!! Como sempre, Ná está cantando muito bem.
4 de abr. de 2011
Minhas namoradas musicais
Paulo Gracindo, na década de 50, quando era ainda radialista e apresentava programas musicais na Rádio Nacional, apelidou a cantora Zezé Gonzaga de sua "Namorada Musical". De fato não havia nada entre Paulo e Zezé, mas a musicalidade e delicadeza do canto de Zezé permitiam esses arroubos sentimentais de Paulo.
Eu sempre tive minhas namoradas musicais, desde criança. Quando bem pequenininho, minhas duas primeiras paixões foram Joanna e Alcione. Isso foi no final da década de 70 para início dos anos 80. De fato minha paixão por essas duas não era exatamente musical, embora eu até hoje ache que as duas, cada uma a seu modo, tem valor e talento, eu na realidade achava as duas lindas e queria casar com elas (!!!). Coisas de criança.
De fato minha primeira paixão musical foi Rita Lee, que eu digo até hoje que foi a minha Xuxa. Sim, pq enquanto meus contemporâneos achavam a Rainha dos Baixinhos o máximo, eu, que até podia ver o programa de TV da Xuxa quando acordava cedo (o que nunca foi meu forte), mas minha predileção mesmo era a Rainha do Rock, com sua irreverência, graça e humor. Adorava a Rita e até hoje acho que ela é uma das maiores mulheres da MPB.
Se Rita foi a minha "Namorada Musical" na infância, eu acabei casando musicalmente com outra grande dama da minha adolescência. Gal Costa foi quem monopolizou todas as minhas atenções a partir dos meus 12 anos, e ainda é a minha cantora favorita, minha eterna namorada musical, embora vez por outra eu tenha lá minhas desavenças musicais com ela. Entre indas e vindas, Gal é uma paixão que certamente me acompanhará por toda a vida, mas nossa relação se tornou madura e abriu espaço para que outras pessoas surgissem.
Na minha fase adulto-jovem fui arrebatado por um trator de emoção, calor e voz chamado Cássia Eller. Cássia foi minha terceira Namorada Musical. Na década de 90 tive a certeza de que Cássia seria a maior intérperet brasileira durante muito tempo, até que aquela tragédia aconteceu... enfim...
Enquanto meu relacionamento com Cássia ia a todo calor eu conheci uma outra moça, esta com doce voz de cotovia, a paulistíssima Ná Ozzetti, com sua afinação perfeita, seu repertório entre o clássico e o inusitado, sua m usicalidade acima de qualquer suspeita. De fato foram exatamente Gal Costa e Cássia Eller quem me levaram a ouvir (e me apaixonar) por Ná, minha quarta namorada musical. A primeira vez que li o nome de Ná Ozzetti foi numa crítica de um disco de Gal (o jornalista falava de cantoras que seguiam o estilo de Gal, entre elas as mais destacadas, segundo ela, Marisa Monte e Ná Ozzetti. Ná "who"? eu me perguntei). Em seguida Cássia, que era também fãzoca de Ná, citou-a em diversas entrevistas, o que aumentou meu interesse e curiosidade... mas acho que aí eu já estava rendido por Maria Cristina Ozzetti.
Finalmente nos últimos anos uma outra menina tem me conquistado com sua despretenção, humildade, refinamento, bom gosto. Teresa Cristina é minha quinta namorada musical, e, apesar de algumas poucas vozes chatas dissonantes depondo contra, cada vez mais tenho certeza de que Teresa veio para ficar e fazer diferença na MPB. Cinco cantoras de uma legião que me encanta. Rita, Gal, Cássia, Ná e Teresa são uma pequena grande mostra de tudo de bacana que as mulheres fazem e fizeram pela música brasileira. Adoro-as.
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