20 de mai. de 2011

As Jóias de Zé Pedro


Em Salvador, cidade onde vivo, deixei de ir para danceterias por não ter mais a menor paciência para a pedância dos DJs locais que querem a todo custo serem londrinos ou coisa que o valha e enchem o saco com bate-estaca repetitivo e sem letras, uma coisa insuportável, absolutamente distante do que me é agradável aos ouvidos. Porém, a muito tempo gosto do DJ Zé Pedro. O que é uma coisa estranhíssima, levando em consideração que detesto música eletrônica. A grande diferença entre o DJ Zé Pedro e seus colegas pretensamente "internacionais" é que Zé assume a música brasileira! A muito tempo que descobri que é, sim, perfeitamente possível transformar a MPB em algo dançante. E essa descoberta foi á partir dos CDs de remixes de Zé Pedro, onde até Maria Bethânia e Nara Leão viraram música de pista de dança.

Agora o DJ Zé Pedro está abrindo uma gravadora, a Jóia Moderna. Seria mais uma gravadora como todas as outras, não fossemumd etalhe: a Jóia Moderna é especializada em CANTORAS! Sim, meus amigos, atendendo nossas preces (as minhas pelo menos) surge uma gravadora dedicada a lançar trabalhos de nossas queridas cantoras, especialmente aquelas que, porum motivo ou outro, foram alijadas do mercado fonográfico.

Na primeira fornada saíram, de cara, quatrro CDs absolutamente fantásticos: "Negra Melodia", de Zezé Motta, "A Dama Indigna", de Cida Moreira, "Ave Rara", de Sílvia Maria, e A Voz da Mulher na Obra de Taiguara. Um melhor do que o outro.

"Negra Melodia" traz de volta Zezé Motta ao disco, após 11 anos. Zezé, uma grande cantora que se deu melhor como atriz, aparece nesse CD cantando uma dupla de compositores chamados de "malditos", Luiz Melodia e Jards Macalé. O CD é ótimo, e os apreciadores de cantoras devem ter percebido jóias raras do repertório de Gal Costa ("Mal secreto") e Maria Bethânia ("Anjo exterminado") no revigorado e pouco usal repertório do CD. Nenhum dos grandes sucessos de Melodia e Macalé está no CD, mas o repertório é muito bom, e Zezé dispensa comentários.

Cida Moreira registra em "A Dama Indigna" o repertório de show de voz e piano que vem apresentando, e evoca nesse trabalho o espírito de seus primeiros discos, lançados no início dos anos 80, notadamente o primeiro, "Summertime", no qual, assim como nesse "Dama Indigna", Cida canta com seus estilo dramático, espirituoso, com um gostinho sutil de operístico, tanto clássicos da MPB quanto músicas internacionais.

Sílvia Maria é uma veterana absolutamente desconhecida do grande público. Eu mesmo não tinha ouvido falar dela até saber do surgimento da "Jóia Moderna", e fiquei encantado com o CD. Sílvia lançou apenas dois discos antes desse, o primeiro deles no início da década de 70. Uma grande cantora que precisa ser descoberta.

E finalmente "A Voz da Mulher na Obra de Taiguara" é um projeto que traz várias cantoras cantando composições de ou gravadas por Taiguara. Um disco excelente, onde as veteranas Claudette Soares, Cláudia, Fafá de Belém, Célia, Evinha, Cida Moreira, Vânia Bastos, Adyel Silva e Sílvia Maria, ao lado das cantoras mais recentes Luciana Mello, Aretha Marcos, Verônica Ferriani, Fernanda Porto e Teresa Cristina (esta, nuam especialíssima faixa bônus, "Modinha", unica música não composta por Taiguara, mas um dos maiores sucessos dele como cantor).

Como se não bastasse essas quatro belíssimas jóias, a gravadora está preparando novos CDs de Cláudia (cantando lados B da obra de Caetano Veloso) e Amelinha.

Que venham mais e mais CDs dessas grandes mulheres, e que mais e mais grandes estrelas deixadas em segundo plano pela indústria de discos tenham a chance de mostrar seu brilho de novo.

PS: o DJ Zé Pedro diz sempre "Graças a Deus o Brasil não tem só 5 cantoras". Concordo Zé!!!

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