30 de abr. de 2010

Onde está a Alcione deles?


Outro dia meu grande amigo Tiago Marques me enviou pelo MSN um link de um blog, que não me lembro o endereço, onde o dono do blog questionava onde estaria a Beyoncé brasileira. No texto, o autor se questionava onde estariam as grandes divas negras do Brasil, e sugeria que todas as grandes cantoras brasileiras seriam brancas, existindo um preconceito racial velado na MPB, que não daria vez a cantoras negras, com exceção do mundo do samba.

Não concordo com essa visão por uma série de motivos. Acho mesmo que é uma coincidência o fato de que a maior parte das ditas "grandes" cantoras brasileiras sejam "brancas". Tudo muito entre aspas. Por que uma coincidência? Pelo simples fato de que no time masculino, uma imensa maioria dos grandes seja negro: Mílton Nascimento, Gilberto Gil, Djavan, Luiz Melodia, Paulinho da Viola, Emílio Santiago, Jorge Ben, Tim Maia, Martinho da Vila, todos cantores de imenso sucesso em seus estilos, nomes do primeiríssimo time da MPB. Creio que se existisse um "racismo" na MPB, valeria também para os homens...

Na hora que li, imediatamente me perguntei: ué, e a Alcione??? No texto do blog a que me refiro, o blogueiro escreve que as principais cantoras americanas são negras, ao passo que no Brasil nos faltariam grandes cantoras negras. De fato, nomes como Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Marisa Monte, Zizi Possi são consideradas brancas (embora Bethânia com seus traços fortes e cabelos crespos e Gal com uma sutil mulatice brejeira não sejam tão brancas assim), mas não nos faltam cantoras negras: Elza Soares, Sandra de Sá, Alaíde Costa, Zezé Motta, Leci Brandão, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Teresa Cristina, Fabiana Cozza, Margareth Menezes, Virgínia Rodrigues, Martnália e Alcione. Sim, meus amigos. Alcione, a Marrom. Como descartar Alcione numa lista de grandes cantoras do Brasil?

O que me espanta é um subtexto existente que meio que insinua que uma cantora de samba não pode ser considerada grande. Como se não fosse o samba o PRINCIPAL GÊNERO MUSICAL BRASILEIRO. Alcione, caso fosse americana, seguramente seria apontada como uma grande diva, assim como são as cantoras negras de jazz. Eu acho que o preconceito do brasileiro não é, no caso da música, de cor de pele, mas sim, com o nosso querido samba. A verdade é que se valoriza muito os gêneros musicais criados por americanos negros, como jazz, blues, soul - e o R&B feito por Beyoncé, enquanto até hoje o samba é visto como um estilo menor pelos próprios brasileiros.

Alcione tem voz, potência, afinação, estilo próprio, popularidade e prestígio, tudo o que uma cantora precisa pra ser chamada de grande. Alguns hão de questionar o repertório. Responderei: aonde o repertório de Beyoncé é melhor que o de Alcione? Em que? Em nada. De fato a partir de meados da década de 80 os discos de Alcione passaram a incorporar baladas sentimentais (bregas mesmo) que foram seus grandes sucessos à partir de então. Houve uma queda na qualidade das suas canções de maior sucesso. Porém quem escutar as músicas menos conhecidas desses discos vai ver que ali estarão escondidos grandes sambas. Isso sem contar com a primorosa primeira fase da carreira de Alcione, com discos excelentes e grandes músicas como "Não deixe o samba morrer", "Rio antigo", "Ilha de maré" e tantas outras. E Beyoncé? Qual é a música que ela gravou até o presente momento que possa ser apontada daqui a 30 anos como um clássico da música americana, como são "Sufoco" e "Menino sem juízo" para a música brasileira? Além do que, existe uma verdade em cada interpretação de Alcione para essas mesmas músicas bregas, como "Estranha loucura" e "Nem morta", que faz como que mesmo essas gravações demonstrem a grande intérprete que é Alcione. Alcione já declarou em várias entrevistas que sua maior influência foi a cantora Núbia Lafayette, intérprete de canções sentimentais de teor derramado muito semelhante a de músicas como "Ou ela ou eu", "O que é que eu faço amanhã" ou "A loba". Quando Alcione canta músicas ditas "bregas" não está mirando o sucesso fácil, está sendo fiel a sua formação musical. Ser verdadeira é mais uma das qualidades que fazem de Alcione uma grande cantora.

O que falta ao Brasil não é uma Beyoncé com produções extraordinárias, roupas, bailarinos, fogos de artífício e baladinhas pop. O que falta são brasileiros que valorizem o que tem. Ao invés de procurar Beyoncés por aqui, deveriam perguntar: onde está a Alcione deles?

29 de abr. de 2010

Ouvindo Ademilde Fonseca


Nesse momento acabo de escutar a grande ADEMILDE FONSECA cantando "Fala baixinho", choro de Pixinguinha e Hermínio Bello de Carvalho que Ademilde defendeu num dos famosos Festivais da década de 60 e que se tornou um daqueles clássicos da MPB que não são exatamente sucessos de massa, mas por sua beleza, prestígio e qualidade, são clássicas assim mesmo.

Ademilde é conhecida como "A Rainha do Chorinho" e seu grande diferencial foi ter sido a única grande intérperete do choro cantado em todos os tempos. Lógico que outras cantoras e cantores gravaram chorinhos, mas Ademilde foi a única especialista no gênero. O que é surpreendente é que, apesar da grande dificuldade de se CANTAR o choro, Ademilde por algum motivo absurdo que não consigo imaginar qual, nunca foi colocada como uma das grandes cantoras do Brasil, nem mesmo na época de seu auge. E ela É UMA DAS MAIORES CANTORAS DO BRASIL DE TODOS OS TEMPOS.

A beleza da afinação, da extenção e do timbre de voz agudíssimo de Ademilde, bem como sua extraordinária capacidade de interpretar os mais difíceis choros em velocidade aceleradíssima, a colocam ao lado de gente importante, como Elizeth Cardoso, Angela Maria, Dalva de Oliveira, Elis Regina e Gal Costa, sempre citadas por músicos e críticos como grandes cantoras da história da MPB. Aliás, a própria Gal na década de 70 regravou um dos grandes sucessos de Ademilde, o choro "Teco Teco", de Pereira da Costa e Mílton Vilella. Uma cantora que sempre rendeu homenagem à Ademilde, foi Baby do Brasil (ex Consuelo), que regravou "Brasileirinho", "O que vier eu traço", "Delicado" e "Apanhei-te cavaquinho", todas grandes sucessos de Ademilde, sendo que as duas últimas, Baby recebe Ademilde como participação especialíssima nos seus discos de 85 e 79.

Outra linda homenagem prestada a Ademilde foi feita Por Aldir Blanc e João Bosco ao comporem o choro "Títulos de nobreza (Ademilde no choro)" para o LP que ela lançou em 75, no qual, citando nominalmente diversos chorinhos famosos, terminam com o verso "entre mil vibrações, Ademilde no choro"

Foi Ademilde a primeira cantora a cantar o "Tico tico no fubá", e foi com ela que essa música fez sucesso cantada, embora a versão com letra diferente feita por Carmen Miranda nos Estados Unidos seja sempre relembrada. E foi com "Tico tico no fubá" que Ademilde se tornou conhecida do público no início da década de 40.

Hoje Ademilde continua na ativa, fazendo shows e dando entrevistas, e, apesar de sua voz já ter se tornado bem mais grave com a idade, ainda mantêm a mesma afinação que a tornaram um dos mais curiosos casos de injustiça da MPB. Porque Ademilde Fonseca é uma de nossas melhores cantoras, e é preciso que se diga isso sempre, uma dos mais curiosos casos de "Ganhou mas não levou" que se tem notícia.

Vale muito a pena ouvir Ademilde Fonseca. Recomendo a todos os de coração puro e ouvidos sensíveis.

Gal



Já tem um bom tempo que criei o site www.cantorasdobrasil.com.br. Desde seu surgimento, o site já esteve hospedado em provedor gratuito, hoje tem domínio próprio, e, sozinho, vou fazendo uma coisinha aqui, outra ali, e o site vai crescendo aos pouquinhos. Não sei se o que faço tem alguma importância, mas geralmente fico feliz com o "feed-back" das pessoas.

Nada mais justo que abrir o blog falando da pessoa que motivou tudo isso: a cantora GAL COSTA.

Na época que o "cantorasdobrasil" começou a tomar forma eu trabalhava na feitura do site não oficial da Gal, o Verdadeira Baiana, que durante algum tempo foi um site importante para fãs da cantora. Enquanto pesquisava a carreira da Gal, eu ia colhendo biografias de outras cantoras, até que dei por conta que o que tinha coletado já era um outro site. Portanto devo agradecer à Gal por hoje ter um site que, pelo menos a mim, traz satisfação. Minha paixão por cantoras, mesmo não tendo se iniciado de todo com ela, se cristalizou por causa dela.

Quando criança eu era apaixonado por Rita Lee, Joanna e Alcione. Gal era uma cantora que eu admirava, mas em segundo plano, ao lado de Maria Bethânia, Elis Regina, Zizi Possi, Simone e tantas outras cantoras que fizeram enorme sucesso da década de 80.

Mas já adolescenete deu o clic e passei a colecionar os discos da Gal, que se tornou minha cantora preferida. Além de sua voz lindíssima, às vezes docemente suave, às vezes estridente e metálica, Gal sempre teve uma persona forte, uma imagem inconfundível. E todos os seus predicados como cantora, intérprete e artista a tornaram, ao meu ver, a cantora mais influente sobre as gerações seguintes de cantoras desde a Bossa-Nova. Sim, Nara, Elis e Bethânia foram e são definitivas. Mas foi Gal Costa quem mudou o parâmetro do que é ser cantora no Brasil. Foi Gal quem primeiro incorporou a mulher moderna ao que é ser cantora no Brasil. Sua sensualidade, seu repertório meio pop/rock na década de 60 e 70. Acredito mesmo que ela é a cantora mais perceptível na personalidade, repertório e estilo das cantoras que vieram depois: Baby Consuelo, Zizi Possi, Fafá de Belém, Elba Ramalho, Marina Lima, Ná Ozzetti, Vânia Bastos, Jussara Silveira, Vanessa da Mata, Marisa Monte, Cássia Eller, Rosa Passos, Belô Velloso, Daniela Mercury, Roberta Sá, cada uma dessas em maior ou menor medida têm uma herança forte da Gal, sem cair, claro, na armadilha da imitação pura e simples, até pelo fato de que Gal é inimitável. São reflexos de Gal sobre todas essas e mais outras.

Hoje em dia muito tem se criticado a Gal. Algumas críticas são completamente sem sentido, outras têm lá seu fundamento, mas uma coisa nunca é dita: Gal Costa tem uma obra, uma história. Já passou a muito tempo da fase do artista que precisa fazer algo novo para ser relevante. A relevância de Gal na história da MPB é definitiva e imutável. Gal está acima do bem e do mal. Meu bem, meu mal.

Começando as atividadaes

Bom, pessoal, criei esse blog para ser um canal onde possa colocar minhas impressões pessoais sobre cantoras, opiniões sobre discos, pensamento diversos, uma vez que no site www.cantorasdobrasil.com.br eu sou o mais imparcial possível.

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