10 de jun. de 2010
Geração 2000
De tempos em tempos a MPB passa por um bum de surgimento de cantoras, quando aparecem quase ao mesmo tempo várias artistas de talento, que se tornam figuras importantes do cenário da Música Brasileira. Foi assim no final dos anos 70, quando apareceram quase concomitantemente Zizi Possi, Angela Rô Rô, Elba Ramalho, Marina Lima, Olívia Byington, Joanna, Fátima Guedes, e outras, uma geração de artistas que ficou conhecida como "As Cantoras de 79", ano em que a maioria delas começou a aparecer na mídia.No início dos anos 90, na esteira do grande sucesso obtido por Marisa Monte em 1989, o fenômeno se repetiu, trazendo para as luzes os nomes de Adriana Calcanhoto, Cássia Eller, Zélia Duncan e Daniela Mercury, todas surgidas por volta de 1990.
Ainda é cedo para afirmar que o fenômeno se repete agora nos anos 2000, pelo simples fato de que elas estão ainda em início de carreira, mas uma nova geração vem se configurando. Destacado os casos de Maria Rita, Vanessa da Mata e Teresa Cristina, que surgiram um pouco antes, o boom a que me refiro se deu de 2005 para cá, com o surgimento de Roberta Sá, Ana Cañas, Mariana Aydar, Céu, Bruna Caram, Marina de La Riva, Maria Gadú, entre outras.
Apesar de muito elogios por parte da imprensa, tenho ouvido também inúmeras críticas a essa nova geração, principalmente dos afixionados pelas cantoras da brilhante geração dos anos 60 e 70, de Elis, Bethânia, Gal, Nana, Clara, etc. Essas críticas se resumem no seguinte ponto: essa nova geração não se sustentaria por muito tempo por lhe faltar "presença" e "identidade". Quando falam "presença", se referem ao fato de que essas pessoas não veem nessa nova geração a mesma força interpretativa daquelas cantoras citadas acima, e quando falam "identidade", referem-se a possibilidade delas serem muito semelhantes entre si em termos de timbre de voz e forma de cantar.
Não sou partidário dessas críticas, embora concorde em alguns pontos. Com relação às comparações com cantoras da geração passada, eu não concordo e acho absurdo qualquer avaliação do trabalho artístico de alguém, principalmente em música, pela comparação do que outro tenha feito. Gosto ou não de um disco, de uma voz, pelo que ela é em si, não pelo fato de achar que outro disco ou outra voz possa ser maior.
Com relação ao fato dessa nova geração se assemelhar muito em termos de timbre vocal, cncordo em parte. Mas não acho que isso faça com que nossas novas cantoras não tenham "identidade".
O que acontece é que não posso escutar um disco de alguma dessas cantoras que citei e não perceber ali uma dedicação à escolha do repertório, à criação dos arranjos, e, também, a beleza singela das vozes. Recentemente fiquei imensamente feliz e emocionado com uma campanha da Arezzo, no qual Roberta Sá, Mariana Aydar, Ana Cañas e Maria Gadú aparecem todas produzidas cantando o rockinho dos anos 80 "Totalmente Demais". Achei encantador e fiquei feliz pelas novas cantoras brasileiras terem representatividade suficiente como grupo, a ponto de estrelarem uma campanha de uma das mais famosas marcas de sapato do país. Logicamente que eu gosto mais de algumas dessas novas cantoras que de outras, mas por mais que eu ainda não tenha visto um timbre inconfundível de voz, tenho total prazer em ouvir a delicadeza de Roberta, Mariana, Marina, Ana, Céu, etc. Acho importante, depois de tantos anos de modismos radiofônicos via jabá, da falta de noção - e até de pudor - banalizada por coreografias acolhidas pela falta de gosto das classes A, B, C e D, nesse momento da ditadura do politicamente correto, que ainda existam pessoas que façam música pelo prazer de fazer música, se dediquem a pesquisar sonoridades, palavras, tentem cantar bonito. Mesmo que não surja uma nova Gal Costa (e não é preciso que surja), acho maravilhoso que Roberta Sá, Mariana Aydar, Ana Cañas, Marina de La Riva, Céu e Maria Gadú tenham a pretenção de honrar toda a grande história da MPB.
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